Ano: 1988
Diretor: Hayao Miyazaki
Estúdio: Studio Ghibli
País: Japão
Duração: 86 min
Gênero: Aventura / Comédia / Sobrenatural




“-Meu Vizinho Totoro. Assisti. AGORA PQ DEUS AS PESSOAS AMA ISSO? São duas crianças que não param de correr e gritar nunca.”

Eu começo esta resenha falando do maior problema do filme. Um problema enorme, gigantesco, e que aumenta com o passar do tempo. A expectativa. É um filme tão grande, tão bem falado, tão famoso que as pessoas podem assistir e se perguntar porque todo este barulho. Porque "Meu Vizinho Totoro" é um filme simples. Recomendo até que quem já pensa em assistir o filme que o faça antes de ler esta resenha. Porque, mesmo que a resenha não tenha spoilers, eu o considero o melhor filme de animação oriental, e eu sou empolgado, e vou me rasgar de elogios a partir de agora :)
A primeira vez que assisti Tonari no Totoro, eu chorei no final do filme. Eu não choro muito com filmes ou séries, normalmente só choro com livros. Mas isto não foi o mais inusitado. Era a primeira e única vez que, após ver algo, eu chorava de felicidade.


Estes filmes tinham muita ação. Belas e bem montadas cenas de voo. Antagonistas com pontos de vista e motivações complexas. E, com exceção de Lupin III, todos têm protagonistas femininas fortes e um mundo ostensivamente diferente e fantástico.
O Estúdio Ghibli produzia apenas filmes para cinema. Com isto, um fracasso de bilheteria poderia significar sua falência. Mas o estúdio já tinha uma fórmula de sucesso que funcionou duas vezes. O caminho fácil e sábio seria continuar trilhando o mesmo caminho.
Ao invés disso, eles fizeram dois filmes muito mais pessoais e sutis: Meu Vizinho Totoro e Túmulo dos Vagalumes. Inclusive ambos os filmes foram lançados juntos, em 1988. Você pagava o preço de um ingresso para ver ambos.







Ambos os filmes foram um sucesso. Fico imaginando o turbilhão de emoções ao assistir um depois do outro...
Meu Vizinho Totoro conta a história de duas irmãs: Satsuki e Mei. Satsuki é a irmã mais velha e responsável, já Mei é mais nova e impulsiva. Elas se mudam com o pai para uma casa velha, de estilo misto europeu e japonês, que fica em uma região rural, perto do hospital onde a mãe delas está internada.
Em meio à rotina da família, as crianças começam a descobrir seres fantásticos. Primeiro são as fuligens, criaturas que são uma bola preta com olhinhos e perninhas (e que apareceriam novamente em A Viagem de Chihiro). Depois, duas criaturas pequenas, peludas, gordinhas e orelhudas que levam Mei até onde mora o espírito da floresta: Totoro (o nome vem da tentativa da Mei de falar a palavra “troll”).
O Totoro é uma criatura enorme, peluda, benigna e que tem alguns poderes mágicos. As meninas não conseguem acha-lo por conta própria, ele só aparece quando quer. E ele parece gostar muito delas. Eu fico com medo de falar e dar spoilers de um filme que é tão simples. Mesmo que estes spoilers sejam algo que todo fã de animação japonesa já tenha visto por aí pela internet. Mas vou dizer, de maneira vaga, que a cena do ponto de ônibus é tão delicada que dá impressão que se você olhar demais ela vai se despedaçar na sua frente.
O filme é feito com um cuidado tão grande que ele tem aquela aura boa de algo que foi feito com carinho e artesanalmente, ao invés de ser feito de maneira impessoal por um maquinário. Foi feito uma planta-baixa da casa em que as meninas vivem para que a iluminação ficasse correta. As aquarelas dos backgrounds, feitas pelo Oga Kazuo, são tão incríveis que ganharam um bluray contando a respeito de como foram feitas.
A dublagem e o comportamento das crianças são perfeitos. Quem tem contato com crianças vai reconhecer as birras, medos, alegrias, explosões. A trilha sonora, feita pelo Joe Hisaishi, é uma prova viva de porque ele tem todo este renome nos dias de hoje.
O melhor jeito de descrever a naturalidade de Meu Vizinho Totoro que consigo pensar é imaginar que é uma noite fria, e você deita debaixo de um cobertor bem quentinho e macio. No começo você percebe o cobertor, depois o conforto vai tomando conta e a sensação do cobertor desaparece, a não ser que você preste atenção nele. Meu Vizinho Totoro é assim: você começa impressionado com a arte, com o clima, mas de repente tudo isto some. Você é sugado para dentro daquele mundo, para a magia da infância, e tudo simplesmente faz sentido.
Até uma das últimas cenas do filme, que eu não posso comentar, me faz ter vontade de gritar e pular toda vez que assisto. Comportamento também exibido pela minha afilhada de 6 anos, que não fica só na vontade.
Há mais um curta que se passa no universo do filme. Mas ele só pode ser assistido no Japão, no Museu do Ghibli, e em determinados períodos do ano. Não há previsão de lançamento em DVD, Bluray ou digital.
Heider Carlos